O percurso das literaturas negra e periférica a partir dos anos 1960 enfrentou questionamentos, barreiras, invisibilidade, oposição, pouca valoração. Mas, ao negarem o que sempre lhes fora naturalizado no senso comum e na história social do país, escritores, ativistas e intelectuais negros e periféricos escavaram com enfrentamento e resistência um espaço incontestável na história da literatura brasileira. Isso pode ser observado no reconhecimento que o presente, por fim, confere a nomes como Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, Paulo Lins, Conceição Evaristo, Marcelo D’Salete, Oswaldo de Camargo, Sérgio Vaz, Kiusam de Oliveira, entre tantos outros – hoje celebrados, premiados e objetos de estudo. Nesta segunda edição, Mário Medeiros revisita a primeira edição de sua obra, de 2013, atualizando-a e ampliando-a com um novo capítulo, voltado à história das livrarias e das editoras dedicadas à literatura negra, e ressaltando o poder da literatura negra feminina no Brasil atualmente.
Contracapa
Ao discorrer, numa entrevista, sobre a formação intelectual de pessoas que não cresceram rodeadas de livros – caso de boa parte da intelectualidade negra –, o autor desta obra legitimou as publicações a que tínhamos acesso nas bibliotecas públicas, nas salas de leitura dos bairros, nas bibliotecas comunitárias criadas por nós mesmos, nos saraus, nas bibliotecas dos bares onde acontecem os saraus. O discurso de Mário Medeiros era libertador: nossa formação tinha valor, e podíamos, sim, ser escritoras, escritores e intelectuais públicos, mesmo não tendo nascido em berço de livros, mesmo não tendo lido os clássicos da literatura mundial (descobertos, encontrados e acessados tardiamente) em edições de capa dura herdadas da biblioteca dos pais, avós e de outros parentes ainda mais longínquos na árvore genealógica. Mesmo não tendo o exemplo da formação intelectual acadêmica ou literária entre os familiares próximos, mesmo sendo você a primeira pessoa a levar a universidade para o mundo de possibilidades da sua família: podíamos, autorizados pelo professor Mário, reconhecer nossa agência gestada no pouco, nas faltas, no residual e a partir das parcas políticas públicas a que tivemos acesso.
Neste trabalho de pesquisa e de análise rigorosas – que nos apresenta a pioneira livreira negra Nair Theodora Araújo e afirma Carolina de Jesus como ficcionista do cotidiano, ao tempo em que utiliza sua trajetória para problematizar as teses do mestre Florestan Fernandes sobre a integração do negro na sociedade de classes –, Medeiros explicita as divergências de ideias e até mesmo as pendengas entre as autorias negras e periféricas de 1960 a 2020. Não somos um bloco monolítico; somos diferentes, divergentes e, às vezes, antagônicos.
Ao consubstanciar o problema da marginalidade produtiva, distributiva e consumidora das literaturas em tela, neste livro Mário Medeiros convida críticos e enciclopedistas a analisarem a obra de autoras e autores autorreferenciados como negros e periféricos, avaliando criticamente a forma, o conteúdo, o projeto e a fatura estética com base nas autodefinições.
Aqui, as literaturas negra e marginal/periférica são tratadas como “ideias em movimento, sofrendo mutações ao longo dos anos, ao sabor das demandas e das interpretações históricas” que produzem um conhecimento lacunar, preenchido pela imaginação sociológica que exaure possibilidades, descobre e explora fontes diversas e elabora argumentos de consistência comprovável.
Cidinha da Silva
Escritora
Mário Augusto Medeiros da Silva é sociólogo, escritor e professor do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Como escritor de não ficção, publicou Os escritores da guerrilha urbana: literatura de testemunho, ambivalência e transição política (1977-1984) (2008); e A descoberta do insólito: literatura negra e literatura periférica no Brasil (1960-2000) (2013), este último finalista na categoria Ciências Humanas do Prêmio Jabuti de 2014. É ainda coorganizador de Polifonias marginais (2015), com Lucía Tennina, Ingrid Hapke e Érica Peçanha, e de Rumos do Sul: periferia e pensamento social (2018), com Mariana Chaguri. Já no segmento de ficção, é autor dos livros Gosto de amora (2019), finalista do Prêmio Jabuti na categoria Contos, e Numa esquina do mundo (2020), semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura em Língua Portuguesa.
Danilo Santos de Miranda é diretor do Sesc São Paulo.
Detalhes do produto
- Editora : Edições Sesc; 2ª edição (20 junho 2023)
- Idioma : Português do Brasil
- Capa comum : 592 páginas
- ISBN-10 : 8594932421
- ISBN-13 : 978-8594932426
- Dimensões : 16 x 3 x 23 cm
A descoberta do insólito: Literatura negra... - Mário Augusto Medeiros da Silva
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